domingo, 15 de junho de 2008

Índice

1.Introdução

A imagem em movimento como culminar de um percurso lectivo

2.Desenvolvimento – Os bastidores da imagem

Projecto/estágio, trabalhos curriculares e extracurriculares

3.Conclusão

O culminar de um caminho


A imagem em movimento como culminar de um percurso lectivo

O segundo semestre, tendo eu tomado consciência da situação quando nos foi anunciada a redução da nossa licenciatura, foi para mim encarado como um período de tempo em que tentei preparar-me contra as lacunas que poderia ter na minha formação no sentido que pretendia dar-lhe, tentando absorver o máximo de informação e experiência, e tentei escolher as cadeiras e fazer opções nesse sentido, num sentido global e complementar.

Para tal, fui estagiar para a mvmtv para ter uma experiência a nível profissional, num local onde sabia que iria ter liberdade criativa, ainda que limitada por valores de ordem ideológica. Trabalhei num canal televisivo, com imagem animada, desenvolvi competências para trabalhar a imagem em movimento.

Para além da vertente profissional, foi combinado desde o início desta cadeira Projecto/Estágio, dividir o meu trabalho em duas vertentes de investigação e experimentação: o meu estágio, e uma outra, cinematográfica, que inicialmente passou pelo documentário e que acabou por inserir também outros assuntos à medida que fui tendo contacto com mais informação.

O movimento é um extra da imagem que lhe acrescenta a função tempo. Terá sido a partir dessa premissa que Paz dos Reis, fotógrafo, experimentou o cinema através das suas curtas películas que sucedem imagens fotográficas.

É a partir da sucessão de imagens estáticas, a fotografia, a ilustração, os grafismos, que se cria a imagem em movimento, o vídeo, a animação, os grafismos animados, área em que me debrucei no meu estágio, na construção de separadores, genéricos, fichas técnicas.

Os bastidores da imagem

Projecto/estágio, trabalhos curriculares e extracurriculares

No texto de candidatura e apresentação do que anunciávamos fazer relativamente à cadeira (pode-se visualizá-lo em http://b-veiga.blogspot.com/2008/02/projectoestgio-nossa-vida-feita-de.html) propus, como já foi dito anteriormente, dividir a cadeira projecto/estágio em dois percursos distintos, o estágio na minha entidade acolhedora que eu propus efectuar protocolo, mvmtv (música, vídeo e moda) visto que as opções que me foram apresentadas pela faculdade não satisfaziam as minhas necessidades, e o apoio no desenvolvimento de um documentário em torno de uma ideia que desenvolvi e discuti no Workshop «A ficção na construção do real e o documentário ficcionado» sob a orientação de Miguel Marques (Novembro 2007), organizado a propósito do Ovarvídeo.

Na mvmtv, canal dirigido a um público-alvo adolescente, após muitos entraves, vi crescer um projecto conjunto, um canal do Porto, que não quer ser regionalista, e que vi passar da tvtel para a tvcabo, do Porto, para Lisboa e Coimbra.

Fui vendo o meu trabalho passar para o ecrã à medida que o concluía. No início fiz separadores, grafismos animados de publicidade ao próprio canal, em after-effects, programa com o qual nunca tinha trabalhado, embora quando a directora me perguntou, antes de me admitir, se sabia trabalhar com ele, eu respondi que aprendia depressa. E assim foi.

Pediram-me um trabalho experimental que tinha feito na disciplina de Laboratório de Vídeo para um horário de emissão nocturno, por causa do ritmo e duração. Também fiz uns pins, em conjunto com outra colega que já trabalhava lá, para fundo de um programa, inicialmente filmado numa discoteca, chamado BB.

O primeiro separador, com a frase em voz off «Nunca vestiste uma peça de roupa ao contrário?», ,tecnicamente, foi uma experiência enriquecedora, aliei vídeo a desenhos vectoriais floriados, abarrocados. A seguir a esse veio «Não tens objectivos, contratempos, percalços, amigos chatos e coloridos?».

Neste separador já não estava tão às escuras porque sou muito observadora, vou observando dados e pessoas e percebendo o que estas esperam do meu trabalho, uma espécie radiografia ao de perfil do cliente. Dentro do meu estilo tentar fazer algo do agrado de quem me pede o trabalho, neste caso a directora, Joana Lousada. Pretendia também ganhar o respeito que pretendia atingir pela minha resposta, e por isso, depois de uma luz acesa, procurei dar o meu melhor, durante todo o tempo que estive lá.

Numa outra perspectiva, foi-me pedido um separador para um grupo de precursão, os «be-don», banda de lançamento mvm, embora que já tinham estado no Gato Fedorento, portugueses de uma filosofia e um estilo de música semelhante aos «Stomp». Foi basicamente, uma composição feita só com vídeo.

Até que finalmente, me deram um programa, coisa que me foi motivando enquanto o fui desenvolvendo e construindo. Principalmente, quando o vi em televisão. «Mete-te na tua vida». Neste ponto, o professor Vitor Almeida tinha-me dado uns links com genéricos e publicidade para ver, e queria fazer umas experiências. Fiz todo o grafismo do programa, o que foi muito gratificante, logótipo, caixas de texto, genérico, mini-separadores, agradecimentos, e ficha técnica, onde já aparecia o meu nome. Fui introduzindo alterações e aperfeiçoando algumas coisas depois disso. O meu trabalho foi muito apreciado, reacção que me motivou.

No meio do processo de trabalho, na feitura deste programa, fui fazer o Seminário «Cinemarchitecture», e apesar do pouco tempo que tinha para reflectir, aproveitei e absorvi o máximo de informação que pude. Ao mesmo tempo inscrevi-me no Seminário «Ag-Prata. Reflexões periódicas sobre fotografia», com o intuito de ter algo sistemático que me obrigasse a reflectir e a adquirir mais conhecimento. Este segundo seminário foi sendo cruzado por mim com o primeiro e com outras fontes, em termos de conteúdo, e originou o trabalho «Cinema e Arquitectura. Porto, a Cidade mais Cinematográfica» para Estudos de Design, num momento em que sentia necessidade de sistematizar este conhecimento, aproveitando a oportunidade.

Entretanto, foi-me pedido na mvmtv para fazer um genérico, caixa de texto e ficha técnica, para um programa que passa na Nova Era, Sexy Sound System, e que iria ser passado a televisão. Mais uma vez desenvolvi uma técnica nova, de tratar a imagem do vídeo frame-a-frame, através das «actions» do photoshop.

Como estava a fazer o meu trabalho de pesquisa em torno do Porto, pus umas imagens de fundo no genérico, com uns filtros e texturas, da Rua de Santa Catarina e um eléctrico a passar.

Foi-me proposto, no sentido de desenvolver a vertente cinematográfica da disciplina Projecto/Estágio, fazer filmagens para o meu trabalho «Cinema e Arquitectura. Porto, a Cidade mais Cinematográfica», e apresentar como um extra para Estudos de Design. Eu tinha sentido, várias vezes, ao longo do processo, que há coisas que só se explicam com imagens, que as palavras não são suficientes e por isso achei que era um óptimo formato para a minha apresentação deste trabalho. Para tal, recolhi imagens videográficas dos principais edifícios onde se mostrava cinema, e que ainda estão de pé, e escolhi um elemento que estava presente em todos os filmes que falam sobre o Porto, a Ponte D. Luís. Seleccionei um plano de cada filme que referi no meu trabalho e fui ao local. Houve sítios que foi difícil encontrar, principalmente dos filmes mais antigos, mas em informação com a população ribeirinha e munida de uma espécie de guião com os ditos planos impressos, acabei por encontrar. O trabalho está agora em fase de montagem.

Paralelamente, logo no início do semestre, também no sentido de me dar experiência na área, o professor indicou-me para trabalhar com a Rita Bastos, que estava a desenvolver um projecto de mestrado de segundo ano, sobre o «Cinema Batalha», e que tocava nos assuntos «Sala-Bébé», Manoel de Oliveira, que projectou lá «Douro, Faina Fluvial», o seu primeiro filme. Filmamos o Cinema Batalha, ensaiamos planos, entrevistamos pessoas. A propósito dele, falei com Manoel de Oliveira, no Seminário «Cinemarchitectura», que acabamos por frequentar na companhia uma da outra.


O culminar de um caminho

Relativamente à minha intenção inicial para com a cadeira de Projecto/Estágio, acho que cumpri os pressupostos. Fiz um estágio numa empresa televisiva e desenvolvi conteúdos e competências no âmbito do cinema e do documentário que era o objectivo principal, ainda que não tenha desenvolvido o meu documentário. Mas fiz uma pré-produção, fotografei o local, falei com pessoas e filmei um ou outro momento.

Apesar das dúvidas iniciais, o estágio na mvmtv fez-me crescer. Acontecimento que se deve a ter desenvolvido um trabalho contínuo com prazos, pressões, situações que me fizeram ter discernir e aprender a pensar com calma em resposta a um clima de stress. Lidei com problemas reais, com uma equipa real e fui vendo o meu trabalho no ar, que me foi dando motivação para continuar e fazer melhor, uma ginástica técnica e mental, propiciada pela constante necessidade de resolver situações.

O meu trabalho de investigação e experimentação em torno do cinema, que deu origem ao trabalho «Cinema e Arquitectura. Porto, a Cidade mais cinematográfica», e o facto de me manter em contacto com a faculdade, ajudou a prevalecer uma vertente mais artística do meu trabalho, e que considero crucial.

Cinema e Arquitectura | Porto, a Cidade mais Cinematográfica

«As ruas e as praças foram vedetas na História do Cinema»

Nuno Portas

Porto, a Cidade Mais Cinematográfica


O cinema em Portugal surgiu, no Porto, pela mão de Aurélio Paz dos Reis, em 1896, com a sua primeira experiência de captação de imagens em movimento, «Saída dos Operários da Fábrica Confiança», que será indubitavelmente uma cópia de «Sortie des Usines Lumière», dos Irmãos Lumiére.

Há uma proliferação do cinema, através dos teatros e dos edifícios, no Porto, que mostravam cinema. Por esse motivo é propiciado um segundo momento em que esta cidade está a par da Europa, com o surgimento da produtora Invicta Film, em 1910, catorze anos depois de Aurélio.

Após a sua primeira experiência no cinema, como actor, em «Fátima Milagrosa» (1928), de Rino Lupo, produzida pela Invicta Film e através das projecções de cinema expressionista e cinema russo que assistiu no cinema Olímpia, Manoel de Oliveira foi sendo seduzido pela sétima arte e produziu «Douro, Faina Fluvial». É inaugurado o cinema de autor.

A fotogenia da cidade, divulgada por estas três referências, atraíram e continuam a atrair câmaras provenientes de olhares exteriores.

O que pretendo com o trabalho é falar de olhares, olhares que vão ao cinema, onde o edíficio e a tela criam um espectáculo, um imaginário, e olhares de realizadores, a disparidade de olhares. Não posso abranger todos os filmes, em que o Porto é representado, assumidamente, ou não, por isso escolhi os filmes pela via emotiva, tal como este trabalho o é para mim.



Olhares cinematográficos


Para tal, divido os tipos de olhares em três tipos. Olhares do Porto, pessoas que nasceram/cresceram no Porto. Olhares de pessoas de outros cantos do país, em que escolho o Sul como exemplo distinto, pois como expressa António-Pedro Vasconcelos, «O Porto sempre me fascinou como “décor”. (…) Talvez por ser uma cidade mais sombria do que Lisboa, e precisar de sol, a zona histórica do Porto tem esse tipo de janelas assim rasgadas. Há muito pouca parede; é quase tudo janela, vidro, virado para o exterior, para o sol.».

Há, de facto, uma grande diferença entre Porto e Lisboa, em termos de luz, ambiência, edíficios, o que faz com que realizadores como Sandro Aguila procurem esta cidade, «Isso também está inscrito na arquitectura da cidade. Eu tenho filmado muito interioridades e normalmente recorro aos grandes planos. No Porto, fechei as personagens dentro da cidade, e não precisei de fechar a escala para que o décor me desse essa sensação de claustrofobia.».

A terceira visão é a estrangeira.

Esta é uma divisão possível, a outra poderá ser entendida pelo papel que é atribuído ao Porto no filme. Considero que poderá aparecer como décor, enquanto espaço que faz parte de uma construção de um maior espaço imaginário onde decorre a acção, um espaço construído através de fragmentos de espaços dispares. Pode ainda ser representado de uma forma documental, a cidade é a personagem principal, ou com o intuito de traduzir uma cultura, a cultura portuense. No caso em que representa a cultura, a cidade na sua essência, enquanto aglomerado de edifícios dotados de uma identidade indissociável da população e em que há uma história, um enredo, passa para segundo plano, em favor das personagens, «sobretudo o Porto popular, que é matriarcal e de uma enorme e generosa energia» (António-Pedro Vasconcelos).

Como olhares portuenses posso referir Manoel de Oliveira que faz uma série de filmes sobre a sua cidade, neste que é «Porto, da Minha (sua) Infância» (2001).

Aniki Bóbó poderá inserir-se na situação em que a cidade é usada como décor, na forma de personagem secundária. A personagem principal é uma personagem colectiva, baseada no conto dos «Meninos Milionários» de Rodrigues de Freitas, uma população infantil datada, que, em jeito de brincadeira, simboliza e representa os vícios e virtudes da natureza humana. Oliveira diz «A criança é um adulto em potência».

Contudo, é em «Douro, Faina Fluvial», que «Oliveira, o Arquitecto» (referência a filme de Paulo Rocha), representa o Porto em primeiro plano, ao pormenor, as estruturas, os edifícios. Como quando faz um plano aproximado, acompanhado de um travelling pela estrutura da Ponte D.Luís, com o seu cenário de casas antigas em esplendor, embora não deixem de ser representados os trabalhadores nas suas actividades. Ou em o «Pintor e a cidade» (1956), primeiro trabalho em que experimenta a cor. Aqui, Oliveira, filma a cidade velha, e «sobe até à cidade alta mostrando a sua fase modernista: na arquitectura, na presença do automóvel, na circulação dos cidadãos, nos reclamos luminosos…» (Sérgio C. Andrade).

Também Aurélio Paz dos Reis com as suas curtas películas, «Saída dos Operários da Fábrica Confiança», «No Jardim», «Feira de Gado da Corujeira», e «O Vira», documentou a cidade, ainda que, talvez, sem a consciência dessa responsabilidade.

O Porto visto por um lisboeta. «Jaime» (1999) de António-Pedro Vasconcelos. Um filme das gentes, sem o ser. As personagens lisboetas escolhidas fazem um sotaque forçado e quase ridículo, em contraponto com as crianças de sotaque espontâneo, ou algumas personagens provenientes da cidade, embora com uma discreta participação, caso de Mário Moutinho. Sendo que é semelhante a «Aniki Bóbó», percorre os seus lugares, explora as personagens infantis, numa perspectiva mais negativa sobre a sociedade, onde Nicolau Breyner, polícia (plano picado), tenta sacar informações a Jaime (Saúl Fonseca), num jeito diferente do «polícia» de Oliveira em «Douro, Faina Fluvial» e «Aniki Bóbó»(plano contrapicado), que quase não fala, tem um olhar distante e recriminatório, pretende estabelecer a ordem . A ponte D. Luís, mais uma vez, tem uma grande importância no filme, é a ponte de ligação entre os pais de Jaime que estão separados, estando esta personagem a tentar conciliá-los ao longo da narrativa. Aparece em fragmentos, e depois total no final, como símbolo de liberdade.

Filme estrangeiro. «The Dancer Upstairs» (2000), de John Malkovich. É um filme que não representa o Porto, antes, utiliza a cidade como cenário de uma história. Malkovitch achou que esta cidade e arredores eram semelhantes, no «décor», a Lima, capital do Peru. O Porto aparece quando é necessário criar um ambiente idílico, ou de romantismo, em contraponto com uma realidade dura, árida, de revolta.

Contudo, «Trois Points sur la Rivière» (1999), um filme de Jean-Claude Biette, assume a cidade e cataloga o espaço. Os críticos consideram que este filme foge às vistas vulgarizadas do Porto, é «A procura que um indivíduo pretende fazer do seu misterioso e inacessível mestre – o que equivale também a uma busca interior – se dissolve, afinal na redescoberta de uma cidade.» (por Sérgio C. Andrade).

Sinto que posso também referir a situação em que o Porto aparece associado a uma personagem-tipo, é o caso de «Chico Fininho» (1981) de Sério Fernandes, uma comédia de costumes, realizado quando a música «Chico Fininho» de Rui Veloso e Carlos Tê atingia o seu apogeu. Também Pedro Abrunhosa com a sua indumentária fora do vulgar, aparece, como um ícone, em «A Carta» (1999) de Manoel de Oliveira. Apesar de não se passar no Porto, parece que transporta consigo algo do Porto, tanto quanto mais não seja o sotaque, «Um cinema com sotaque», como se refere António-Pedro Vasconcelos ao cinema do Porto. Não podemos deixar de referir, o videoclip «Momento», realizado por Oliveira. E então as artes fundem-se. «Uma sombra em segredo» é ampliada até ao gigantismo e projectada por um edifício na Praça do Cubo, à noite, ao jeito de Aniki Bóbó, onde, na noite, as sombras se evidenciam ameaçadoras, como que a recriminar Carlitos, em segredo, por ter roubado A Boneca.

Pedro Abrunhosa aparece, sem óculos de sol, a tocar jazz num bar, num filme de Saguenail, «Amour en Latin» (1988).





Os Espaços de Cinema


Será também importante, já que falamos de «Cinema e Arquitectura», falar dos edifícios que funcionaram como albergue de projecção de cinema no Porto. Ainda que a propósito dos edifícios de Lisboa, mas que também se aplica ao caso do Porto, Manuel C. Teixeira, arquitecto, diz que «não eram apenas os filmes que nos ofereciam visões de outros mundos e de outros espaços, era a própria arquitectura do cinema que nos oferecia outras percepções».

A propósito do mesmo assunto, acrescenta: «A ida ao cinema era uma decisão complexa que incluía o filme, mas também o cinema e a zona da cidade onde apetecia ir». Com base nesta afirmação, farei uma lista dos cinemas que existiram na cidade, com referência à zona, organizando os edifícios por datas em que começaram a funcionar como espaços onde se percepcionava cinema.

Dos edifícios ligados, agora ou em tempos, ao cinema que podemos encontrar pela cidade ainda hoje temos o actual Teatro Sá da Bandeira, na Rua Sá da Bandeira, que se chamava Teatro do Princípe Real, e que teve a sua primeira projecção em 1896 com Paz dos Reis. O Cinema Batalha, que em 1908 se chamava Novo Salão Hight-Life, quando começou a passar cinema, ainda em 1906, teria sido apenas Hight-Life e funcionara na Feira de S. Miguel (actual Rotunda da Boavista) e no Jardim na Cordoaria, num barracão de madeira e zinco. Paralelamente ao cinema Batalha, em data mais recente, funcionou a chamada Sala Bebé, dentro do mesmo edifício, embora optando por uma programação autónoma, e, por isso, considerada uma sala independente.

Podemos encontrar ainda de pé, embora sem o requinte e a glória de outros tempos, agora fora de funcionamento, o Águia D’Ouro, na Praça da Batalha, Largo Stº Ildefonso, que iniciou a sua actividade como cinema em 1908. Em 1931 foram feitas obras de remodelação, ficando com uma nova fachada onde foi acrescentado um símbolo com o seu nome, Águia D’Ouro. O Olympia Kinema-Teatro, de 1912, na Rua Passos Manuel, abaixo do Coliseu do Porto, que funciona agora como Bingo tal como aconteceu com o Cinema Trindade. Este, chamado Salão-Jardim da Trindade, em 1913, fechou em 1989 para dar lugar a um Bingo que funcionou até 2000, estando prevista uma próxima reabertura, novamente com a função de cinema.

O Teatro Rivoli, «pomposamente inaugurado» em 1932, na Rua de Bonjardim, Praça D. João I, ainda tem pequenas sessões/ciclos de cinema e alberga o Fantasporto, um dos festivais com maior projecção no Porto. Em 1932, o actual Teatro Nacional S. João, na Praça da Batalha, que até então também vivia de espectáculos de teatro e ópera, funciona a partir dessa data como cinema, como S. João Cine. Também o Teatro Carlos Alberto, na Rua das Oliveiras, funcionou como cinema, sendo que agora está associado ao Teatro S. João. O Coliseu do Porto, com uma grande lotação (3016 lugares) abriu «como Casa de espectáculos para as modalidades de teatro, cinema e circo» (Tripeiro V Série-ano-I), em 1941.

Podemos também ver na cidade o Cinema Júlio Diniz, na Rua Costa Cabral, o Cine Estúdio também na mesma rua, aberto como sala multiusos, o Cine-Teatro Vale Formoso, na Rua S. Dinis, 892 (Arca D’Água), actualmente Igreja do Reino de Deus de Vale Formoso (sentido que teria seguido também o Coliseu, não tivesse a sua venda sido alvo de contestação pública, constituindo-se depois a Associação de Amigos do Coliseu para gerir os seus destinos ), o Cinema Nun’Alvares, explorado pela Medeia Filmes e actualmente encerrado, situado na Rua Guerra Junqueiro, 4585. O Cinema do Terço, que encerrou as portas em Maio de 2003, na rua João Pedro Ribeiro. O cinema Passos Manuel que abre em 1971, para fechar apenas em 2002, por dois anos, retomando depois a sua actividade. O Estúdio Foco, aberto em 1973 e que se encontra fora de funcionamento, na Rua Afonso Lopes Vieira (à Avenida da Boavista). O cinema Charlot, no interior do Centro Comercial Brasília terá desaparecido há dois anos, enquanto estrutura, pois já estava inactivo há muito tempo, assim como o Castello Lopes no central Shopping que desapareceu em 2004. Também inactivo está Pedro Cem, embora não há tanto tempo, e podemos vê-lo na Rua Júlio Dinis (Galeria Comercial). Do mesmo caso dos dois últimos exemplos, é o Stop1 e 2, no Centro Comercial Stop na Rua do Heroísmo e temos a Casa das Artes que, em certa altura, também teve exibições de cinema, assim como o tem o Teatro do Campo Alegre.

Estamos agora na era do «cinema de Shopping», que aparecem na cidade em flecha, sendo que, à parte do Cinema Cidade do Porto que também ameaça encerrar, não considero ser de citar mais nenhum.

Importante, é, pelo menos, deixar o nome dos cinemas que, de curta ou longa duração, fizeram parte do aglomerado de edifícios da cidade, numa qualquer época. E é por época que enumero o Salão Pathé, o Salão Cinematográfico do Chiado, o Salão-Jardim Passos Manuel, Rendez-Vous D’Elite, Cine-Foz, Cinema da Carvalhosa, Teatro Vasco da Gama, Eden-Theatro, Salão da Porta do Sol, Salão Cinematográfico Portuense, Salão Marquês do Pombal, Salão Santa Catarina, Central Cinema da Carcereira, Salão-Cinema do Parque das Camélias, Cinema Éden Palácio de Cristal, Cine-Teatro Ódeon, Cine-Teatro Vitória, Lumiére A e L, Rayone, e Estúdio 400.



Conclusão: Uma visão emotiva do Porto


Arquitectura e Cinema. O Porto. A máquina de filmar que regista os edíficios, percorre esta cidade com «Três Pontes sobre o Rio» e o frenesim da cidade para a posteridade, através de vários olhares, muitos mais pontos de vista.

O que ficou por dizer? Muita coisa. Nicolau Nasoni. Fazer um estudo exaustivo dos arquitectos responsáveis pelos monumentos filmados e os edifícios que projectavam cinema. Falar de muitos filmes e muitos realizadores, Nacionais e Internacionais. Fazer uma recolha dos filmes que estão a ser produzidos na cidade, fora do circuito comercial, por pequenos núcleos. Falar dos festivais de Cinema que impulsionaram e impulsionam realizadores, e dos que desapareceram. Falar de Animação, Abi Feijó, Pedro Serrazina, do Filmógrafo, da Casa da Animação. Muitos assuntos que, em dada altura, pensei incluir mas que 2000 palavras não o propiciaram.


Bibliografia

Consultada:

Livros

RODRIGUES, António - Cinema e arquitectura. Lisboa: CINEMATECA PORTUGUESA [et al.], ed. lit. – MUSEU DO CINEMA , ed. lit., 1999, ISBN 972-619-175-0

RIBEIRO, M.Félix - Filmes, figuras e factos da história do cinema português 1896-1949. Lisboa: CINEMATECA PORTUGUESA, ed. Lit, 1983, ISBN 972-619-026-6

ANDRADE, Sérgio C. - O porto na história do cinema. Porto: PORTO EDITORA, Colecção: Tripé Da Imagem, 2002, ISBN: 978-972-0-06285-7


Documentos on-line

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Autor Desconhecido - Saguenail apresenta nova película (2006) Não é possível aceder em 12, 06, 2008, em:

http://jn.sapo.pt/2006/06/30/cultura/saguenail_apresenta_nova_pelicula.html

Autor Desconhecido – Cineclube do Porto (2008)Acedido em: 12, 06, 2008, em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cineclube_do_Porto

CINECLUBE DO PORTO – Blog do clube português de cinematografia (2008)Acedido em: 12, 06, 2008, em:

http://cineclubedoporto.canalblog.com/

FEIJÓ, Abi – Filmógrafo 1999 (1999) Acedido em: 12, 06, 2008, em:

http://www.ciclopefilmes.com/abi-feijo/textos-escritos-por-abi/filmografo-1999

CINEMA POBRE – Cinema pobre para os ricos de espírito (2008) Acedido em: 12, 06, 2008, em:

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MURTINHEIRA, Alcides – Paulo rocha (1935) (2006) Acedido em: 12, 06, 2008, em:

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ROCHA,Paulo – Oliveira, o Arquitecto (1993) Acedido em: 12, 06, 2008, em:

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Autor Desconhecido – Edifício águia d’ouro está à venda (2006) Não é possível aceder em 12, 06, 2008, em:

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CINEMA BATALHA – Tradição na exibição cinematográfica (2007) Acedido em: 12, 06, 2008, em:

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FERREIRA, Paulo – Cinemas do porto (2003-2007) Acedido em: 12, 06, 2008, em:

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Filmografia

REIS, Aurélio Paz – Saída do pessoal operário da fábrica confiança (1896)

OLIVEIRA, Manoel de – Douro faina fluvial ( 1931)

OLIVEIRA, Manoel de – Aniki Bóbó (1942)

OLIVEIRA, Manoel de – Porto minha Infância (2001)

VASCONCELOS, António-Pedro - Jaime (1999)

MALKOVICH, John - The Dancer Upstairs (2000)

BIETTE, Jean-Claude - Trois Points sur la Rivière ( 1999)

FERNANDES, Sério – Chico Fininho (1981)

OLIVEIRA, Manoel de – A Carta (1999)

OLIVEIRA, Manoel de - Momento (videoclip)